• por lia vissotto,27 jul 2021
Foram cerca de 2 anos entre o lançamento de “Medo”, faixa do elogiado álbum Violeta de Terno rei (2019, Balaclava Records) e a entrega do clipe homônimo dirigido por Giordano Maestrelli e Duran Sodré (a dupla vira-lata, stink films) e produção da THE YOUTH. Tendo como ponto de partida uma pesquisa de locações na Ilha do Mel, Cânion Guartelá e região metropolitana de Curitiba, o resultado é uma contemplação visual que captura com muita delicadeza e beleza a essência da música.
Sobre o processo de desenvolvimento, Giordando comenta: “foram três meses em pré-produção discutindo cenas, rodando milhares de quilômetros pelo interior do Paraná em busca de locações e traçando planos para, finalmente, em dezembro de 2020, entrar no sonho que passamos tanto tempo criando. As filmagens se estenderam até o outono de 2021 (fomos surpreendidos por intensas chuvas durante janeiro, fevereiro e março e tiramos esse tempo para deixar o projeto marinando dentro de nós), quando num entardecer levemente gélido rodamos aquele que hoje é o primeiro plano do filme”.
Em um texto inspirado e poético compartilhado com o m-v-f-, Giordano descreve sua sensação de quando escutou a música pela primeira vez e quando assistiu ao primeiro corte do filme:
“mesmo perdendo a conta das infinitas ocasiões em que ouvi ‘Medo’ – as múltiplas vezes em que aquela textura aveludada de sintetizador tocaram meus ouvidos – hesito ao tentar definir o que é isso que sinto ao final dos magnéticos três minutos e quatorze segundos de música. É algo agridoce; sem dúvida – ao mesmo passo em que vejo a liberdade, vejo também a prisão; a exuberância e a melancolia; a energia e a calma. E o curioso é que esse sentimentos não andam juntos, lado-a-lado, e sim se cruzam e entrelaçam num movimento majestoso e intrigante. A cada adjetivo que vinha para tentar definir aquilo tudo que sentia, outros cinco surgiam. Me custou muito realizar que essa busca por uma palavra precisa e certeira para categorizar tudo aquilo era, na verdade, vã. Talvez toda a magia de “Medo” estivesse, exatamente, nesse “não lugar”, um lugar que quanto mais eu tentava entender, menos entendia – mas mais intrigado ficava. Depois de algumas semanas sem tirar a música do repeat, tive a certeza de que existia ali uma potência única a ser transformada em imagens em movimento – mesmo sem ainda fazer a menor ideia do que era aquilo…
…algumas semanas depois, quando nós três (eu, Duran e Yuri) assistimos o primeiro corte do clipe, fomos tomados por aquele mesmo sentimento de quando lemos o tratamento juntos pela primeira vez, de quando começamos a decupar, de quando encontramos as locações, de quando rodamos os primeiros planos em Tibagi. Aquele sentimento agridoce, misterioso; sobre o qual passamos mais de um ano debruçados tentando entender, precisamente, o que era. Hoje, orgulhosamente, digo que fracassamos. Quanto mais assisto o corte final, com o color delicadíssimo da Ana, a pós-produção carinhosa do Diogo, o desenho de som instigante da Toro – mais percebo que, durante todos esses meses, na verdade não estávamos tentando decifrar o enigma de ‘Medo’, e sim decifrar aquilo que a música desperta dentro de cada um de nós. E isso é indecifrável. Esse filme me fez realizar que o pôr-do-sol mais bonito é aquele que nós não filmamos; as cenas mais bonitas são aquelas em que a câmera estava desligada.
me orgulho e encanto muito com esse filme, mas ele jamais será tão bonito quanto as memórias criadas durante o seu fazer” – Giordano Maestrelli
Kudos, Vira Lata!